O movimento estudantil é um movimento social e de massa que consiste em uma parcela da sociedade que se organiza a partir de um “lócus”, que é a escola ou universidade. Essa parcela da sociedade não é uma classe social. Os estudantes são uma categoria social que vivencia uma realidade com demandas específicas e gerais dentro de um mesmo local. A partir desta realidade social é que surge a sua organização e sua intervenção na sociedade. Desta maneira, o M.E. possui suas particularidades. A primeira delas é de ser policlassista, ou seja, existem estudantes e grupos de todas as classes sociais. A segunda, é a sua transitoriedade, ninguém é estudante para sempre. Essas características são fundamentais para debatermos e entendermos a ação do M.E. como movimento social.
Dessa forma, o M.E. não possui uma origem (e uma formação) classista que o coloque no centro da luta de classes, fato este que impõe limites à organização estudantil. É através da opção política de parcela dos estudantes, prioritariamente dos seus dirigentes, que o M.E. se insere, ou não, na disputa geral da sociedade. Compreender esse caráter não-classista é necessário para percebemos a amplitude de sua base social, que não é fruto de um processo histórico de exclusão dos segmentos populares, como os demais movimentos sociais. Estes elementos são fundamentais para se pensar as táticas de organização. Desta maneira, não adianta reproduzirmos métodos de organização do movimento sindical ou campesino para o M.E., achando que iremos solucionar os seus problemas. O movimento estudantil deve produzir maneiras próprias de organização, o que não impede a realização de atividades em conjunto com os demais movimentos, visando a troca de experiências.
Voltemos à segunda particularidade do M.E, a transitoriedade. Ela faz com que o movimento seja marcado por uma extrema dificuldade na transmissão de sua história, seus métodos de organização, suas pautas e etc. Ao contrário do movimento sindical, campesino ou partidário, nos quais seus militantes têm 10, 20, 30 (...) anos de militância, o estudante não fica mais do que quatro ou cinco anos no “lócus” da Universidade/ Escola. Desta maneira, muitos saem da universidade sem conseguir transmitir o acúmulo adquirido em seus anos de atuação. Entender essa particularidade é muito importante na caracterização do M.E. e na posterior organização nas entidades e frente à sociedade.
Essas duas características acima levam o M.E. para uma terceira particularidade, a conjuntural. O M.E. vem sendo determinado pela conjuntura e pouco consegue intervir e atuar nela para alcançar seus objetivos, como outros movimentos fazem. Ou seja, se a conjuntura é favorável às mobilizações, o M.E. pode mobilizar. Se não, ele tem pouca capacidade de sair do refluxo.
Hoje, isso torna o M.E refém da realidade, dificultando que ele seja um dos sujeitos dela. Contudo, ao contrário das condições e das conseqüências de ser policlassista e transitório, a questão conjuntural pode ser superada com uma eficaz pauta e uma (re)organização das entidades estudantis, principalmente no que diz respeito a combater a falta de transmissão de sua história e experiência entre as gerações e as direções do M.E.
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